Entrevista a Miguel Coelho, no Expresso
Presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior
Tomámos o Elevador da Baixa para nos sentarmos frente-a-frente com Miguel Coelho, Presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior. A entrevista que se segue revela a sua avaliação pessoal da reforma administrativa da cidade de Lisboa, a sua visão sobre a Freguesia criada por essa reforma e um balanço do trabalho desenvolvido ao longo do último ano.
Expresso do Oriente – Para começar, pedimos-lhe que faça um balanço da reforma administrativa da cidade, do ponto de vista global.
Miguel Coelho – O balanço é positivo. Esta é de facto uma verdadeira reforma. Em certa medida pode mesmo vir a ser uma boa revolução, porque contrariamente ao que se passou no paÃs, com o Governo de direita a fazer uma junção de freguesias, este foi um processo que começou em 2008 e que não tinha como mero objetivo agregar territórios: pretendia entregar poderes à s Juntas de Freguesia. Isto é, a Câmara de Lisboa, poder centralizado, abdicava de grande parte dos seus poderes para os entregar à s JF’s, por considerar que estas estariam em melhores condições para os exercer. Nessa perspectiva, esta reforma é de facto uma revolução naquilo que acontecia até aqui, desde o Portugal democrático, mas também em relação à s tradições anteriores ao 25 de Abril, em que houve sempre uma grande tendência para a centralização do poder.
EO – Quais são as principais vantagens obtidas com a reforma?
MC – Todas as reformas têm obstáculos mas aquilo que, passado um ano, podemos constatar é que temos maior capacidade de intervenção, porque temos mais meios e mais recursos. Temos maior capacidade de dar sentido à proximidade, porque não nos limitamos a ouvir as pessoas a lamentarem-se… Conseguimos resolver, atenuar ou combater muitas das dificuldades que as pessoas nos apresentam. Também conseguimos agir muito mais rapidamente na intervenção no espaço público porque estamos menos burocratizados do que a CML. Dou-lhe um exemplo muito concreto: na Rua de São Pedro, em Alfama, era necessário fazer trabalhos de reperfilamento relativamente simples. A rua estava toda aos altos e baixos, com as pedras levantadas. Há mais de 15 anos que se ouviam queixas para que a CML fizesse a intervenção. A JF de Santa Maria Maior concretizou esse trabalho em dois meses, porque agora é uma competência nossa. Conseguimos reabilitar uma rua pedonal que ninguém pensava já que fosse possÃvel reabilitar. Esta capacidade que nós temos de agir praticamente de imediato é uma grande revolução na forma de funcionar do poder local em Lisboa, e espero até que este exemplo passe para o resto do paÃs.
EO – Quais são os principais desafios que a reforma coloca à s Juntas de Freguesia?
MC – É evidente que tivemos dificuldades neste processo. Por exemplo na componente da higiene urbana, não é de um dia para o outro que assumimos competências de lavar e varrer e que somos capazes de fazer tão bem feito como antigamente se fazia na CML, mesmo ficando com alguns dos seus trabalhadores. Há a necessidade de adaptarmos uma macro-escala a uma micro-escala de intervenção. Foi necessário ultrapassar algumas dificuldades e estamos agora a recuperar os nÃveis de qualidade do serviço que se prestava até aqui, senão mesmo a melhorá-lo num caso ou noutro. Haverá sempre dificuldades para vencer, mas cá estaremos para as enfrentar. Uma segunda observação que é importante que todos percebam é que, sendo a estrutura da CML uma estrutura pesada e uma máquina muito grande, ainda há por vezes ao nÃvel dos seus departamentos técnicos alguma incompreensão sobre as competências das JF’s, e portanto à s vezes temos alguns choques que são naturais mas que temos vindo a resolver com o diálogo, afirmando o princÃpio da reforma administrativa.
EO – Esta é a freguesia que agrega o maior número de antigas freguesias da cidade de Lisboa. É um sinónimo de heterogeneidade ou de homogeneidade? Como vê a sua Freguesia?

MC – Há as duas coisas, felizmente. Se olhar para aquele mapa percebe que esta é uma freguesia que nasceu a partir do Castelo e cresceu até ao interior da Muralha Fernandina. Isto é o centro histórico. Quando alguém diz “o Chiado não tem nada a ver com Alfama”, engana-se, porque tem. Foi no Chiado que os Templários acamparam para ajudar D. Afonso Henriques a tomar o Castelo aos mouros. Quem visita uma capital ou uma cidade de relevo quer conhecer o seu centro histórico. Esta Freguesia é o sÃtio mais visitado da cidade de Lisboa. Moram em Santa Maria Maior sensivelmente 15.000 pessoas, mas temos diariamente cerca de 200.000 pessoas que gastam os passeios, trazem automóveis, fazem lixo, e que reclamam com a JF, comportando-se como fregueses… e muito bem! E os bairros não são iguais, o que é sem dúvida um factor de riqueza, de diversidade e uma oportunidade. Se nós soubermos potenciar as caracterÃsticas especÃficas de cada bairro, estaremos a suscitar maior interesse nas pessoas em visitar-nos, conhecer-nos, estabelecerem-se aqui, em usufruir das possibilidades de lazer e culturais que oferecemos. Queremos que os visitantes venham ajudar a sustentar a economia local, com as tascas, os restaurantes, o pequeno negócio orientado para o turismo, as colectividades locais… Somos um território único. Santa Maria Maior não é uma freguesia monótona.
EO – Gostávamos de o ouvir falar sobre o nome da Freguesia.
MC – É um nome fantástico. A origem está na Igreja da Sé, que já se chamou Santa Maria Maior, e de facto é um nome agregador. Naturalmente que os bairros têm rivalidades históricas e porventura não aceitariam referência a um nome que reforçasse o pendor bairrista de um determinado bairro. Aquilo que constatamos é que todas as pessoas de Alfama, da Mouraria, da Baixa, do Chiado e do Castelo se revêem no nome de Santa Maria Maior. Não poderia ter havido melhor escolha.
EO – Falamos agora dos trabalhos que este Executivo já desenvolveu. O que gostaria de destacar de obra feita neste primeiro ano de mandato?

EO – E no que diz respeito à dinamização cultural?
MC – Estamos a investir muito no conceito da cultura como ocupação do espaço público. Temos acarinhado muito o fado popular, porque faz parte da cultura deste território, além de ser Património Imaterial da Humanidade. Temos grandes intérpretes e compositores, letristas e poetas populares. Queremos dar-lhes a oportunidade de mostrar a sua qualidade. Vamos lançar este ano a primeira edição da Grande Noite de Fado de Santa Maria Maior, para suscitar o aparecimento de novos valores. Estamos a investir muito na multiculturalidade. O grande equipamento cultural que a Freguesia tem são as praças e os largos. Não temos nenhum teatro, auditório… Estamos a ocupar as nossas praças com uma sucessão de eventos que evidenciem tudo o que de bom se faz cá dentro. Por fim, estamos a apostar na vertente do empreendedorismo. Vamos criar a nossa start up, vocacionada para as pessoas da Freguesia, e estamos a criar uma série de instrumentos, como novas feiras, que possibilitem aos artesãos da Freguesia exporem os seus produtos e conseguirem mais rendimentos. Criámos a nova Feira do Castelo, que correu muito bem, em parceria com uma entidade local.
EO – Alguma grande obra que queira ver concluÃda em breve, neste ou num eventual próximo mandato?
MC – Em termos de espaço público, a grande prioridade é recuperar os espaços degradados. Temos definido um conjunto de praças e ruas que queremos reabilitar neste mandato e estamos a fazê-lo. Há outro objetivo, que é deste e do próximo mandato, ao qual naturalmente me apresentarei. É a reabilitação da Praça da Figueira. É preciso devolver a esta Praça o esplendor e a dignidade que ela já teve. É preciso recolocar a Praça da Figueira no mapa da cidade de Lisboa.
EO – Para terminar, pedimos-lhe que comente sobre a nova imagem da JF e o novo logotipo, bem como sobre a importância das novas instalações.

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